quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sinto falta

E muita, do tempo em que eu tinha um tempo pra perder. Desperdiçar algumas horas do dia e não fazer absolutamente nada. Tipo férias quando se é criança. Mas depois que se cresce todos os conceitos mudam, inclusive o de tempo. Uma mudança bem drástica até. Tanto conceitual quanto física também, porque ele, o tempo, diminui, encolhe e desaparece na mesma medida em que as responsabilidades aparecem.

Crescer cansa. Uma hora cansa e não há tempo pra descanso. Na verdade a vida segue o ritmo de um operário, daqueles que trabalham sem parar, é pai de cinco filhos e tá sempre cheio de contas a pagar. Ela não pára, não espera e facilmente larga pra trás quem não segue seu tempo, quem não assume o que tem de ser feito, pelo menos o que culturalmente se diz ter que ser feito. Quem não se "responsabiliza". Quem não cresce.

O engraçado é que tem sempre uma hora na vida da gente que aparece alguém dizendo que "tá na hora de crescer", de "tomar responsabilidades", de fazer isso ou aquilo. Eu já acredito que o que tá faltando mesmo é alguém pra dizer que tá na hora de parar de crescer, de aliviar um pouco o acelerador e diminuir essa pressa toda em se chegar aonde nem se sabe direito o destino.

A sociedade tem pressa. E isso tudo me cansa às vezes. Não tome isso como esquiva minha ou como pura irresponsabilidade. Quero é poder parar tudo tranquilamente quando for preciso sem ser repreendido por isso, por quem quer que seja. Quero poder ligar o off e me desligar do mundo quando der vontade. Que quando o faço não é por nada, é apenas necessidade. Pode parecer pedir muito. Pode até ser inútil. Mas não me custa nada tentar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

E ele bem que tentou com a gente

Aparentemente usando aquele velho esquema de "se colar, colou". E esperou o momento mais adequado enquanto nós dois desatentos caminhávamos conversando as mesmas banalidades de sempre pela rua estreita, mas até que movimentada, às cinco da tarde de uma sexta-feira úmida e abafada, resultado da trégua entre a terceira e a quarta chuva que ainda desabaria naquele dia.

Nós dois que de lá vínhamos, distraídos com vai e vem do diálogo que apagava o mundo ao nosso redor, mal sabíamos que o de cá por nós esperava, ansioso por um celular, um tênis, um trocado esquecido no bolso ou qualquer outra coisa que o valha.

No momento certo (ou errado), logo na esquina quase no final da rua, ao lado do orelhão e em frente a academia, eis que os três se esbarram. Vieram o choque e o susto, não só do estado e da aparência do estranho, mas também da frase por ele pronunciada, e tantas vezes esquivada por nós. "Isso é um assalto", só aí paramos o papo, descemos à Terra e demos conta do que acontecia.

-Pausa pra advertência-

O manual básico de sobrevivência urbana adverte: nessas horas, não exite, entregue tudo e seja feliz. Embora o prejuízo seja por vezes grande, o rombo se atem apenas ao bolso e deixa intacto o resto do corpo. E, mais importante, não tome nossa audácia como exemplo.

-Fim de pausa-

Tão bem paramos, nem esperamos qualquer reação do infame, demos meia volta e de lá retornamos como se nada tivesse acontecido, só esperando qualquer coisa vindo daquela direção: uma bala, uma facada, uma pedrada, no mínimo. Mas ficou por isso. Somente minutos depois, já seguros atrás do balcão da padaria, é que nos demos por inteiros e, por muita sorte, ainda com os pertences no bolso. Se ele estava realmente armado, isso não sei. Pensando bem sobre tudo agora, é até provável que não. Mas nos dias de hoje, as coisas estando como estão. Eu é que não ia esperar pra saber se o assalto era de verdade ou não...

Moral da história (se é que há):
Você pode até tentar, mas a reação que temos diante de uma situação como essa é algo que não dá pra prever. A não ser que você se auto-regule feito um monge tibetano, a sua ação, dependendo do caso, é uma dúvida constante. Uma dúvida que só encontra resposta na hora H mesmo. Na hora do sufoco. Mas essa é uma dúvida que eu conservaria sem resposta numa boa pelo resto da vida. Porque isso é uma coisa que eu não faria e nem faço a menor questão de descobrir.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Não se engane

As pessoas sempre nos surpreendem. E nos desapontam também. Não raro, algumas delas conseguem fazer os dois juntos, surpreendem desapontando, na sua cara, sem o menor ressentimento. Quando se trata de pessoas, esteja pronto pra receber de tudo, bem ou mal, é assim que elas são.

Por mais que você ache que conhece alguém de verdade, pense mais um pouco e espere, mais cedo ou mais tarde você vai notar que estava totalmente enganado. Vai ver quão cego era, quão estúpido era e vai sentir vergonha, vergonha mesmo, de conviver com certas pessoas. Não vou aqui generalizar e dizer que a humanidade está perdida. Embora muitas vezes pareça. Embora muitas vezes a única solução aparente seja esta, perda total e irreparável de qualquer vínculo interpessoal, de convivência, de reconhecimento diante dessas pessoas.

Casos assim de súbito desapontamento demandam um nível muito alto de abstração, de superação e da capacidade de perdoar do sujeito. O perdão por si só já exige muito da pessoa. Requer uma força de vontade e um poder de esquecimento que poucos possuem. Sendo bastante honesto, perdoar pra mim, dependendo da gravidade do acontecimento, é um passo atrás com relação a tudo aquilo em que eu acredito, que eu vivi e que eu sinto. Perdoar da boca pra fora é muito fácil, difícil é esquecer os motivos que geraram todo o desconforto até chegar a esse perdão. E esquecer pra mim é algo quase impossível. Eu vejo isso como uma ação involuntária, não dá pra escolher o que esquecer e o que não esquecer. O que eu penso me afeta diretamente, e o que não esqueço me afeta mais ainda. Afeta justamente porque vai de encontro aos meus princípios. E perdoar requer ir além de todos os seus princípios. E isso, sinto dizer, é algo que definitivamente não consigo.

domingo, 12 de abril de 2009

Mais essa agora

Provavelmente você já tenha visto isso por aí nos jornais e nos noticiários. Eu é que tô desatualizado das coisas do mundo por causa desses estágios e dessas provas que não me dão desconto hora nenhuma e só fico sabendo da morte do fulano semanas depois da missa de sétimo dia.

Agora, que diabos que essa mulher pretendia fazer pulando na jaula de um bando de ursos?! Atentei o máximo que pude pro discurso do locutor pra encontrar um possível motivo, mas meu alemão só me deixou compreender um "nesse momento", em algo muito próximo do nosso português, que o repórter manda aos 20 segundos de vídeo. Pode clicar que você também vai ouvir.

Difícil

Muito difícil crer que esses caras fazem tudo isso na base do improviso.

sábado, 11 de abril de 2009

Duas rápidas constatações

Que embora eu já soubesse, se confirmaram nesse feriado.

A primeira delas: eu odeio filosofia e temas desse gênero. Mas não um ódio saudável. Longe disso. É algo num nível que ainda não dá pra mensurar ou pôr em palavras. E eu simplesmente me recuso a acreditar que haja alguém no mundo em plena consciência e boa saúde que possa gostar disso, embora eu conheça quem se julga ser assim. E respeite. E entenda, em parte.

Segunda e última: Desperdiçar um feriado fazendo algo que te traz um imenso desprazer pode passar mais depressa do que se imagina. Ainda mais quando tu te compromete e decide absorver aquilo tudo nem que seja na marra, só pra fechar na nota que tu precisa pra te manter num patamar decente na academia, e depois fazer uma pilha gigante de textos filosóficos no quintal e incendiar tudo. Oh, sonho! Uma glória, isso sim!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Trago más novas

Uma péssima notícia a que recebo. Combinando bem com essa chuva que cai sem parar lá fora desde cedo. Foi só entrar na internet e ver que não vou poder mais tomar meus chás quando batia aquela vontade. Angélica está fechando seu endereço. Uma imensa perda pra quem o acompanhava, e mais ainda pra quem não o conhecia. A sorte é que nos ficam os registros, os arquivos on-line e seus livros como consolo.

sábado, 4 de abril de 2009

Aprendi

Aprendi que todo mundo é meio roleta ou catraca de ônibus nessa vida. E que essa vida é tal qual o asfalto que ele segue, às vezes lisinho e plano, às vezes todo rachado e esburacado, às vezes é quase esmagado por uma multidão de gente e em outras é como um viaduto passando por cima de todo eles.

Aprendi também que todas essas pessoas que passaram e passam pela nossa vida, simplesmente passam. E a palavra não podia ser outra, elas passam mesmo e é assim que tem que ser. Conscientes disso fôssemos só mais um pouco, e nenhum estranhamento ou incômodo existiria quando tu cruza, por acaso, com alguém que tu não via há séculos e que foi, em outros tempos, muito próximo de ti, e hoje essa pessoa só te responde com um aceno de cabeça e um sorriso que qualquer desconhecido um pouco mais educado te daria na fila do banco ou na porta do elevador.

Desconfio que a fórmula (tempo) X (distância)² tenha o poder de descaracterizar as pessoas, ou de mudar a visão que a gente tinha delas, ou então de mostrar o que elas realmente são. Não defini ainda ao certo. Porque aquela pessoa que eu encontrei na rua, ao meio dia de uma terça-feira cinzenta e escura de chuva, podia ser tudo, menos aquela quem eu conheci anos atrás e que me provocava risos até poucos dias só de relembrar tudo o que ficou registrado em fotos, em sons e todo o resto.

Talvez o tempo e a distância tenham me mudado também. Talvez o estranhamento tenha sido mútuo. Talvez fosse apenas o dia errado e a hora errada. Talvez todos nós não sejamos mais os mesmos. Talvez muita coisa, mas isso nem deu tempo de saber.