quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Cidade pequena tem um esquema próprio que tira a individualidade da pessoa. Lá você não é só você, você é você e sua família inteira junta, você representa e zela a imagem de todo mundo, por obrigação. Primeiro que ninguém é desconhecido e nas ruas dizem bem assim: "Ah, aquele é filho de fulano, neto de sicrano". Chamar pelo nome mesmo, é raro.

A vida de cada um, para a cidade pequena, é comunitária. Eles ainda, gentilmente, definem seu destino: "Olha lá o filho do beltrano, quando crescer vai ser médico. Tem até cara de médico". Na verdade, as profissões valorizadas se resumem em ser: médico, advogado, médico, engenheiro, médico, dentista e médico. Exatamente nesta ordem.

Cidade pequena não tem cinema, não tem teatro, não tem museu. Cidade pequena tem praçinha, de preferência ao redor da igreja. "Vamos pra onde?" Na sexta, praça. No sábado, praça. No domingo, praça. Aí você põe a melhor roupa, assiste a missa, dá duas ou três voltas na pracinha, e depois vai pra casa assistir ao finalzinho do Fantástico. Quando a coisa desenvolve, a pracinha ganha quiosques. Vira o futuro.

Cidade pequena tem briga de família fora de casa, com platéia. Tem quem discute até tirar a roupa do outro no meio da rua. Tem gente que "dá parte" no fórum. Tem gente que "enrreda" no rádio. E tem programa de rádio especializado nisso.

Cidade pequena é esquecida. Só lota em período de eleição, ou quando é dia do padroeiro, ou quando o time local joga.

Festa tem duas vezes por ano. A cidade pequena também lota. Fica cheia. Fica 'a capital'. A cabeleireira se mata de tanto fazer escova. Nas ruas, logo cedo, as moças já andam de bobs pra mostrar que hoje tem. Antes da festa, todo mundo na pracinha.

Cidade pequena faz excursão uma vez ao ano pra praia e quinhentas vezes à Canindé.
Cidade pequena tem bandinha com integrantes na terceira idade pra tocar no desfile de 7 de setembro e primeiro de maio.
Cidade pequena tem sempre uma comunidade no orkut com o nome dela seguido da expressão "é um ovo".
Cidade pequena não aparece no Google Earth. Lá ela não passa de uma mancha borrada.
Cidade pequena fica sempre pequena. Quando cresce é no contingente carcerário.
Cidade pequena é a materialização do tédio. E qualquer dia ela fecha, por não ter nada o que fazer.

5 comentários:

Ricardo Moreira (Krusty) disse...

Mas quem não gosta de relembrar, a vida simples no interior,das brincadeiras,da primeira namoradinha,da vizinha fofoqueira...
Pow,me fez ficar com saudades da inocência e simplicidade que hoje não existem mais...

Deise Rocha disse...

brasília não é pekena mas é kase issoo...

bem, nunca morei em tal, e até longe de mim isso enkanto puder evitar... mas ainda assim, sou apaixonada por pekenas cidades...
sei lá o pq, mas sou...

Moranguinho disse...

nooooo
disse tudo
ja morei em cidade pequena, com a diferença é que a minha era turistica, mas forade temporada não se diferenciava em nada disso ai...

cara, eu adoooooro seus textos...

Vai demorar pra vc ler esse coment, com certeza ai ser num dia daqueles em que não se esta fazendo absolutamente nada e vc vai resolver reler o que ja escreveram pra vc... ai vai achar no meio do nada esse comentario
shaushaushaushausa

sou louca... eu sei!

Bruna disse...

talvez você nunca leia esse comentário, afinal, eita post antigo ein.!!...não mudou muita coisa, não é? Dois anos e continuamos assim.

Anônimo disse...

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