
E cá estou eu. Aos vinte. Há cinco meses dos vinte e um, pra ser mais exato. E o que diabos fiz eu da vida? Aulas eu já dei e ainda dou, mas não de Geografia. De casa mudei umas tantas vezes. Dos amigos recordo claramente, não de todos, mas de uns poucos e bons. Se lembram de mim eles isso não sei. Vivo também estou, mas e essa vida? Qual que é a dela? Às vezes olho o calendário e - puta que o pariu - já cheguei aos vinte. E como diria minha professora do ginásio: vinte anos é muita coisa. Muita mesmo. O que aflige mesmo é olhar pra trás e não ver nada de concreto, e pra mim a lembrança que ficou do passado é só um barco de papel velho no meio do oceano e tentar se segurar nele é afogamento na certa. E me pergunto de novo: mas o quê exatamente que eu fiz até hoje?
Meus pais casados já eram nos vintes deles. Filhos mesmo só tinham um. A segunda talvez estivesse em processo de feitura e eu só dali uns cinco anos teria meu pedido expedido. Aos dezenove anos, por exemplo, Mary Shelley publicara Frankenstein. Aos vinte, Freud também já devia estar rabiscando seus rascunhos ou ao menos divagando sobre o que se tornariam anos depois umas das pilhas que cultivo na mesa do quarto. Mas e eu? O que tenho fora a minha coleção de cartões telefônicos aposentada, meus quinze conto na carteira, meus tênis surrados, um blog à beira do fracasso e o agora que tenho de certo. Eu tento não ser determinista, não levar tanto em consideração as coisas do passado pra ver se funciona, mas é quase sempre inútil. E o futuro fica ainda mais cinza do que antes, nublado, uma verdadeira incógnita bem grande acendendo e apagando feito letreiro em neón.
Hoje em casa foi dia de festa. E de novo, aniversário. Não meu, mas da irmã mais velha, outra com problemas com o tempo. A idade que ela fez eu juro que não sei, tenho uma leve impressão, mas certeza devo dizer que não. Essa só ela sabe, e como sabe prefere não dizer. Vive como eu, age como eu e pensa como eu, embora vez ou outra eu tenha certeza que não. E olha que a linha que divide a geração dela e a minha não é nada curta, é daquelas pontes que quase não se vê o fim. Enorme. Mas eu penso que problemas com idade nem eu nem ela temos. Isso sim é problema de outro, ou outros, não meu, não dela. Mas o pior é que não dá pra virar as costas e simplesmente fechar os olhos, que viver em sociedade é fogo. Viver é fogo. Ainda mais quando tu tem que viver pros outros, como se obrigação tua fosse ter que passar por tudo que tu tem que socialmente, é claro, passar porque simplesmente tem e ponto e acabou. Entende? E é assim que funciona. Viver é por si só um trabalho, um trabalhão, e como todo trabalho que se preze, às vezes é chato, às vezes é bom, mas o salário e o retorno, esses quase sempre deixam a gente a se queixar. E é assim que vai ser, eternamente.
Um comentário:
essasmnóias da idade...
mas já parou pra pensar que muitas pessoas nem sequer coonseguem chegar ao 20 anos! Sinta-se vitorioso...
Disse isso a mim mesma a 15 dias atrás - qndo acordei um ano mais velha...
=]
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