sábado, 4 de abril de 2009

Aprendi

Aprendi que todo mundo é meio roleta ou catraca de ônibus nessa vida. E que essa vida é tal qual o asfalto que ele segue, às vezes lisinho e plano, às vezes todo rachado e esburacado, às vezes é quase esmagado por uma multidão de gente e em outras é como um viaduto passando por cima de todo eles.

Aprendi também que todas essas pessoas que passaram e passam pela nossa vida, simplesmente passam. E a palavra não podia ser outra, elas passam mesmo e é assim que tem que ser. Conscientes disso fôssemos só mais um pouco, e nenhum estranhamento ou incômodo existiria quando tu cruza, por acaso, com alguém que tu não via há séculos e que foi, em outros tempos, muito próximo de ti, e hoje essa pessoa só te responde com um aceno de cabeça e um sorriso que qualquer desconhecido um pouco mais educado te daria na fila do banco ou na porta do elevador.

Desconfio que a fórmula (tempo) X (distância)² tenha o poder de descaracterizar as pessoas, ou de mudar a visão que a gente tinha delas, ou então de mostrar o que elas realmente são. Não defini ainda ao certo. Porque aquela pessoa que eu encontrei na rua, ao meio dia de uma terça-feira cinzenta e escura de chuva, podia ser tudo, menos aquela quem eu conheci anos atrás e que me provocava risos até poucos dias só de relembrar tudo o que ficou registrado em fotos, em sons e todo o resto.

Talvez o tempo e a distância tenham me mudado também. Talvez o estranhamento tenha sido mútuo. Talvez fosse apenas o dia errado e a hora errada. Talvez todos nós não sejamos mais os mesmos. Talvez muita coisa, mas isso nem deu tempo de saber.

Um comentário:

Vitoria Esewer disse...

Nossa, que texto lindo. Já tinha visto textos com essa temática em muitos lugares (eu mesma já devo ter escrito alguns assim em algum momento) mas o seu é de longe o melhor (ou, pelo menos, o que mais gostei).

Pouco para dizer sobre isso além do que você já disse. Me sinto estranha - quase triste - a cada vez que encontro por acaso com um antigo grande amigo que hoje já não conheço. Certas coisas comuns que acontecem ao longo da vida são muito estranha, acho que nunca vou me acostumar.

Beijos pra você.

Vitoria Esewer