sábado, 9 de maio de 2009

"Vozes do sequestro"

É o nome de um programa de rádio colombiano que existe desde 1994, mas que eu só fui tomar conhecimento há poucos dias atrás. A lógica do programa é bem simples: como todo país subdesenvolvido, a Colômbia é a própria crise econônima/política/social em forma de nação. E os casos de sequestro por lá se tornaram tão comuns com o passar do tempo quanto bala perdida ou assalto por aqui. E diferente dos brasileiros, os sequestros colombianos perduram anos, não há sequer pedido ou acordo de resgate, nada disso. As facções simplesmente sequestram e somem floresta adentro. O próprio jornalista e apresentador do programa, Herbin Hoyos, foi vítima de um desses sequestros, e é esse um dos motivos que o levaram adiante nesse projeto, o porquê mesmo você encontra clicando aqui. O mais interessante é que o programa funciona como elo entre as famílias e os sequestrados, e o mais importante: une estes com a vida e com a esperança de um dia serem libertos. Imagine você preso no meio de uma floresta, longe de sua família há anos e tendo como único contato com o mundo externo um radinho de pilha, e uma vez por semana é por ele que lhe chegam os acontecimentos de uma vida que lhe foi roubada. É assunto que renderia um longa, mas é fato e acontece logo aqui ao lado, mais perto do que se imagina.

Tem certas coisas que só se conhece mesmo na prática. Vendo, tateando, sentindo. É por isso que os melhores livros sobre a 2ª Guerra não são livros de verdade, mas relatos diretos daqueles que ficaram pra contar o que viram e sentiram naqueles dias. O mesmo pode ser dito dos judeus que passaram pelos tempos de nazismo e também dos sobreviventes do 11 de setembro. Nenhum livro de História, por melhor que seja o historiador responsável por ele, consegue ser mais fiel do que as palavras daqueles que souberam na prática tudo aquilo que nós, anos depois, viríamos a ler e ainda lemos nas escolas, nas bibliotecas, enfim.

Vejo esse jornalista, como um desses sobreviventes da guerra ou do nazismo, o que de certa forma ele é mesmo. E o que ele fez com isso foi melhor do que ter posto tudo em livro. Na verdade foi uma obra não praqueles que um dia poderão saber sobre o que lá aconteceu, mas sim praqueles que ainda lá estão, que ainda vivem uma guerra, um "nazismo" e enfrentam atentados quase que todos os dias no meio da selva.

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