quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Como toda mãe que se preze

E que preze sua prole, evidentemente. Minha mãe é daquele tipo que liga pro filho à uma da manhã, no auge da festa ou de qualquer outra coisa que esteja acontecendo, achando que ele foi raptado repentinamente por algum membro da Al Qaeda, ou que foi abduzido por seres de outro planeta, ou que, no mínimo, foi assaltado e se encontra prestes a aprarecer naqueles programas policiais sanguinolentos que são estrategicamente exibidos na hora do almoço (aliás, não tem hora mais inadequada e inapropiada pra se ver a guerra urbana de todo dia do que essa, não tem). Enfim, o diagnóstico final é que minha mãe sofre de excesso de preocupação quando os filhos resolvem finalmente sair de casa. Coisa de mãe insone e desocupada, certo?!

Errado. Muito errado.

Isso é coisa nossa, de todo mundo. E não precisa ser mãe e ter um filho pra passar por isso, basta ser humano e ter um pouco mais de juízo e noção da realidade e do que acontece ao seu redor. O mundo tá começando a se tornar quase inabitável, e faz a gente se preocupar cada dia mais com tudo e com todos em decorrência de um quadro geral cada vez mais eficiente em provocar esse tipo de medo, de alerta constante e mais uma série de outros sentimentos que desarmam e inoperam as pessoas.

A paranóia que é criada na nossa cabeça é tamanha, que hoje, ao receber um simples e-mail com o subtítulo de "Comunicado URGENTE", eu fico logo a me perguntar quem que foi a vítima do mundo dessa vez, quem que foi mais uma refém dessa situação, quem que não teve tanta sorte e acabou morrendo, quando na verdade o aviso era sobre uma simples e habitual pane no sistema elétrico do campus, e que adiará nossas atividades acadêmicas em pouco mais de uma semana. O que é bom, de certa forma, já que isso também é sinônimo de descanso e de férias por tempo mais do que limitado. Isso pode até parecer exagero de minha parte, que seja. Só tomem cuidado quando nomearem e me enviarem os e-mails, pois - tenho certeza que não diferente de muita gente - possuo um histórico nada agradável de mensagens que chegaram dessa forma nos últimos meses e com um conteúdo digno da capa da página policial de um jornal, falando de pessoas próximas/conhecidas que não se assemelham em nada com a "urgência" de um quadro de luz queimado e danificado.

O mundo tende a nos tornar a cada dia um pouco mais paranóicos. E hoje eu compreendo muito bem o motivo de mães, mães de verdade - e não as que apenas colocam crianças no mundo -, ligarem pros seus filhos em alguma hora da noite pra saber se o coração delas ainda bate e se a vida continua. Pois é exatamente isso o que o mundo atual planta nas pessoas, e essa floresta de medo e preocupação só cresce e aumenta todos os dias com tanta vítima adubando e fortificando esse terreno.

Um comentário:

Flávia Ferraz disse...

"...existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas... cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, e depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas". (C.Drummond A. - Congresso
Internacional do Medo).

Eu sou mãe (!!!) e ainda não tenho paranóias com relação aos meus filhos pois eles são pequenos e vivem debaixo da minha asa.
Mas tenho milhares de outras paranóias...neste mundo que está exatamente como você falou...
bjo.